Noite de Astronomia - 15-01-2016

25-01-2016 10:20

Figuras: Alguns dos objectos observados na Noite de Astronomia na Escola, à esquerda o cometa Catalina (C/2013 US10) e à direita a galáxia de Andrómeda (M31) e as suas galáxias satélites M32 e M110. Créditos das fotos: presentes nas mesmas.

 

Foi por entre o frio da noite e o brilho das estrelas, que muitos compareceram à primeira iniciativa de uma noite de astronomia na sede do Agrupamento de Escolas Rio Novo do Príncipe (EB2,3 de Cacia). Nesta iniciativa da Associação de Pais (APEEAEC) e do Clube de Ciência da escola, procurou-se dar a conhecer (através da observação telescópica) uma pequena parte do Universo e sobretudo conversar, conversar muito sobre ciência. O Prof. Carlos Seabra (professor de Química no Agrupamento de Escolas  de Mira e astrónomo amador nas horas vagas) trouxe um dos seus muitos telescópios e passou a noite a mostrar alguns dos fenómenos do Universo.

Começámos a nossa noite especial e espacial, com a observação do corpo celeste mais próximo da Terra, a Lua (a apenas 384000 Km!). E esta nunca desilude os seus observadores, mostrando muitas das suas crateras e dos seu “mares” (os antigos pensavam que as grandes zonas escuras das Lua eram realmente mares, com água!), incluindo o mar da Tranquilidade, com cerca de 873Km de diâmetro, onde há quase 47 anos chegaram os primeiros humanos (Neil Armstrong e Edwin Aldrin) na Apollo 11.

Depois tivemos a oportunidade de ver o objeto mais longínquo visto a olho nu, a Galáxia de Andrómeda. Quando a luz que observámos desta galáxia se originou, ainda os antepassados do Homem (o Homo habilis) não dominavam o fogo. Situada a 2,5 milhões de anos-luz, este é sem dúvida o objecto astronómico mais longínquo que pode ser visto à vista desarmada. Na realidade M31 é uma imensa galáxia espiral, maior que a nossa, a Via Láctea e com cerca de 150000 anos-luz de diâmetro domina todo o Grupo Local. Foi também possível observar as suas duas galáxias satélite (M32 e M110). A designação M31, para a Galáxia de Andrómeda, deve-se ao facto de ser o objecto número 31 do catálogo de Messier, astrónomo francês que em 1771, compilou uma extensa lista de objectos astronómicos (nebulosas, galáxias e aglomerados estelares), para não os confundir com cometas.

Vimos também a Nebulosa de Órion, que se encontra bem mais perto, a cerca de 1500 anos-luz, na constelação de Órion ou Orionte. Trata-se de uma nebulosa visível a olho nu (parece uma estrela desfocada), que surpreende pelo facto de ser um berçário estelar ativo, onde gases (sobretudo hidrogénio e hélio) e poeiras (outros elementos mais pesados) coalescem em novas estrelas e discos planetários.

Pudemos também observar algumas estrelas, como por exemplo a Estrela Polar e Sirius. A primeira é na realidade uma estrela múltipla (composta por três estrelas que orbitam um centro de massa comum) a cerca de 430 anos-luz do Sol e que curiosamente está alinhada com o eixo da Terra, indicando a direção do Polo Norte. A segunda é uma das estrelas mais próximas, a apenas 8,6 anos-luz, sendo também a estrela mais brilhante vista da Terra, a seguir ao nosso Sol.

Já depois da meia-noite fomos brindados pelo maior dos planetas do Sistema Solar, Júpiter, que apesar de estar baixo no horizonte mostrou-nos algumas das sua maiores luas (Io, Europa, Ganimedes e Calisto).

E finalmente para os mais resistentes, que queriam ver a “estrela da noite”, tivemos a sorte de conseguir ver o cometa Catalina (oficialmente designado C/2013 US10), perto da constelação da Ursa Maior. Infelizmente, este cometa não é tão brilhante como se supunha, não sendo visível a olho nu de momento (apenas magnitude 6,5), mas é facilmente observável com uns binóculos ou através de um telescópio, desde que se conheça a sua posição.

O cometa Catalina, tal como a maioria dos cometas, é uma “bola de neve suja” com origem na chamada nuvem de Oort (que define a fronteira gravitacional do Sol, até cerca de 2 anos-luz). Devido a alguma perturbação gravitacional estes corpos gelados aventuram-se no sistema solar interior, começando a sublimar e a produzir as características cabeleira e cauda (normalmente são duas, de poeira e iónica), que os fazem parecer muito maiores do que realmente são. Os cometas deixam sempre um rasto de poeiras na sua órbita, que quando é intercetado pela Terra, dá origem às chamadas “chuvas de estrelas” (meteoros) e por vezes colidem com algum planeta, como aconteceu em 1994 com o cometa Shoemaker–Levy 9, que colidiu contra Júpiter.

Curiosamente os dados orbitais apontam para que esta seja a primeira vez que o cometa Catalina se aventura no sistema solar interior e será também a última, uma vez que está numa trajetória de ejeção, isto é sairá para sempre do reino do Sol (Sistema Solar), para o espaço interestelar. Portanto, quem não o viu agora, dificilmente terá outra oportunidade.

Para os que não puderam comparecer, ficou no ar a ideia de repetir esta iniciativa em breve, para observarmos os céus de Verão. Esperamos todos que tal seja possível.

 

Dr. João Ezequiel, Universidade de Aveiro

(APEEAEC)